Jamais ouvida por aqui
É a história que vou contar
Nem é fácil admitir
O que não se pode esperar
Havia muito profundo
Um grande vazio a esmo
Antes deste mundo
Ser mais mundo dele mesmo
Dia e noite, noite e dia
Sol, Lua e nada mais
E o que ninguém podia
Era ver os animais
Não tinha bicho, planta, flor
Chuva? Jamais se viu!
Como se falava de amor
Nestas terras do Brasil?
Suas vidas viviam os homens
Entre rios e montanhas
Mesmo os velhos e os jovens,
De ignorância tamanha
Peixes eram realmente
Bom e rico alimento
Daquela rude e forte gente
Sempre o único sustento
Para fugir desse destino
Tão malfadado e cruel
Os peixes então fugiram
Para os rios lá do céu
É verdade o que conto
Num lindo dia de verão
Os peixes foram ao encontro
Das nuvens feitas de algodão
Nenhum peixe suportava
Ser alimento a cada dia
Do homem que os matava
Pois outro animal não havia
Quando no céu chegaram
Os peixes então livremente
De nuvem em nuvem pularam
uma alegria permanente
Os rios do céu recebiam
Os peixes que da terra chegavam
Que a cada hora subiam
E os homens abandonavam
Com o passar do tempo
Sofria a humanidade
Sentiam a todo momento
Fome, tédio e saudade
Peixes não mais existiam
Em quaisquer rios da Terra
Os homens então morriam
Como em tempos de guerra
Silenciaram a folia
Os peixes do céu comovidos
A humanidade sofria
Tempos tristes jamais vividos
Num grande momento de dor
Todos os peixes do céu
Choraram comovidos de amor
Pelos homens jogados ao “léu”
Os peixes choraram tanto
Que as nuvens do céu incharam
Não mais seguraram o pranto
E as águas então vazaram
Transbordaram as águas do céu
E caíram a todo instante
Primeiro em forma de véu
Depois num gostoso “pingante”
Houve então muita alegria
O que ninguém esperava
De repente assim surgia
A primeira chuvarada
Os peixes arrependidos
Suas lágrimas choraram
Com a chuva de amor amigo
A natureza recriaram
Água mole em rocha madura
Tanto bateu que desmanchou
Sabe a pedra que era dura?
Em terra boa se transformou
E desta terra germinaram
Plantas para dar comida
Aos homens que acreditaram
Neste milagre da vida
Da terra sentiram saudades
Os peixes dos rios do alto
E de sua própria vontade
Voltaram sem sobressalto
Os que de lá saltitantes
Fora dos rios caíam
Viravam a todo instante
Outros bichos sabiam?
Desse modo que sabemos
Como surgiram então
Os bichos que conhecemos
Tucano, onça e mico-leão
Os homens agora de verdade
Uma lição aprenderam
Só caçariam pela necessidade
Pois todos quase morreram
Aos humanos foi entregue
Pelo Pai Celestial
Toda planta, pedra, vento
Todo e qualquer animal
Para que deles tirassem
A comida para seu viver
E a natureza respeitassem
Assim como havia de ser
O bicho, o homem matava
Quando a tal fome batia
E a barriga apertava
A Lei Divina assim dizia
Lição aprendida foi o respeito
Do homem pela natureza
E este então grande feito
É visto com muita pureza
E por todos nós este exemplo
Deve ser sempre imitado
O homem tendo a todo tempo
Com a planta e com o bicho muito cuidado
O homem da terra cuidando
De geração em geração
E a terra ao homem dando
Beleza e alimentação
Foi um tratado de amor
Que a chuva então uniu
A natureza e os homens
Nestas terras do Brasil.
Um dia, navegando pela internet, encontrei fragmentos de uma lenda brasileira sobre a primeira chuvarada no Brasil. Pesquisando mais, descobri que esse conto pertence aos MAXACALI – Nação indígena que vive no Vale do Mucuri, no nordeste do estado de Minas Gerais. Essa Nação ainda preserva sua língua, seus costumes e as tradições de seus antepassados, mas convivem também com outras comunidades indígenas e não indígenas. Possuem muitas lendas, histórias, canções e já há inclusive, publicações destas.
Tantas coisas assim, me inspiraram a recontar a Lenda da Chuva através de versos e contornos da minha imaginação.
Desse conto poético nasceu um espetáculo teatral chamado “Você quer Brasil e Arte? Temos por toda a parte!”, composto também de outras histórias populares que rodou espaços diversificados do Rio de Janeiro. A peça foi dirigida por Sóter França Jr. que transformou verso e prosa em cenas recheadas de sons, movimentos e cores. Foi encenada por muitos atores e hoje, compõe o acervo da Oficina Parangolé.
O sucesso dessa lenda em especial, nos fez pensar em eternizá-la nas páginas de um livro que está sendo cuidadosamente preparado. Junto a André Latham, vimos nosso sonho aos poucos tornar-se realidade.
Essa lenda traz uma reflexão sobre um tratado de amor entre homem e natureza, tão desejado por todos nós.
Andrea A. Ferrassoli
Um comentário:
Does yοuг websіte have a contact pаge?
I'm having trouble locating it but, I'd like to shoot you an e-mail.
I've got some creative ideas for your blog you might be interested in hearing. Either way, great site and I look forward to seeing it improve over time.
Also visit my blog post ... Going On this page
my website :: hair removal solution
Postar um comentário